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A jornada rumo a meta Zero-Carbono e seus impactos no mercado de trabalho
Todos os anos, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publica o Employment Outlook, um estudo sobre as condições e tendências do mercado de trabalho nos países membros da organização.
A edição desse ano foi intitulada: A Transição Zero e o Mercado de Trabalho. O relatório, além dos aspectos gerais de emprego, trata dos prováveis impactos no mercado de trabalho em decorrência da busca pela redução da emissão dos gases do efeito estufa.
Nesse artigo, traremos os principais pontos de atenção e perspectivas da OCDE, considerando as prováveis transformações no mercado de trabalho esperada para os próximos anos.
Boa leitura!
Um dos principais desafios do século 21 é a busca pelo modelo econômico global ideal. Modelo, esse, capaz de conciliar o desenvolvimento e os interesses das nações e a sustentabilidade do planeta.
De fato, as mudanças climáticas estão cada dia mais perceptíveis. Eventos como inundações, nevascas e estiagens, por exemplo, estão ocorrendo com mais frequência e intensidade e algumas vezes em locais, até então, inimagináveis. Recentemente, em 2023, a floresta amazônica, área extremamente úmida, experimentou a maior estiagem já registrada na história.
A ação humana, em principal a econômica, está modificando substancialmente o equilíbrio do planeta.
A comunidade científica é praticamente unânime ao concluir que, a origem principal dessas mudanças climáticas é
o aquecimento global.
Para se ter uma ideia, em abril de 2024, o observatório Copernicus (programa da União Europeia) registrou o 11° mês consecutivo de quebra de recordes da temperatura do planeta.
O efeito Estufa é um processo natural essencial para a manutenção da vida na Terra.
Quando a energia do Sol chega à Terra, parte dela é refletida de volta ao espaço e parte é absorvida pela superfície terrestre, aquecendo o planeta.
Esse fenômeno acontece porque alguns gases absorvem e reemitem essa radiação, prendendo o calor na atmosfera. Esses são os famosos gases do efeito estufa, conheça alguns deles:
A relação entre o efeito Estufa e o Aquecimento Global é direta: o aumento na concentração de gases de efeito estufa na atmosfera intensifica o efeito Estufa, resultando em um aumento adicional na temperatura global.
Em outras palavras, o problema não são os gases e sim a quantidade deles na atmosfera.
Esse problema não é de hoje. A comunidade global já o conhecia e tentava se organizar para combatê-lo há anos.
Diversos acordos, convenções e protocolos foram celebrados a nível internacional. Contudo os resultados práticos eram praticamente nulos.
Há algumas décadas, a grande preocupação com o efeito Estufa estava relacionada ao enfraquecimento, ou os ditos buracos, da Camada de Ozônio.
A Camada de Ozônio funciona como uma redoma ao redor do planeta. Seu principal benefício é o de filtrar a radiação dos raios solares utra violetas do tipo B (UVB).
Na época a grande preocupação era com a exposição humana a essa radiação. Com as mudanças climáticas batendo a porta, a discussão sobre a emissão dos gases do efeito estufa voltou com força ao centro das atenções.
O ápice político dessa preocupação global resultou no Acordo de Paris de 2015.
Assinado em dezembro de 2015 durante a 21ª Conferência das Partes (COP21) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) em Paris, o acordo representa um esforço global para limitar o aquecimento global e promover um futuro sustentável.
A COP21 reuniu representantes de 196 países com o objetivo de estabelecer um acordo legalmente vinculativo e universal para limitar o aquecimento global. O acordo entrou oficialmente em vigor em 4 de novembro de 2016, após ter sido ratificado por pelo menos 55 países que representam pelo menos 55% das emissões globais de gases de efeito estufa.
Para tornar os compromissos factíveis, o acordo reconheceu as responsabilidades diferenciadas das nações em relação às mudanças climáticas, incentivando tanto países desenvolvidos quanto em desenvolvimento a contribuir de acordo com suas capacidades e circunstâncias nacionais.
Em suma, foram estabelecidas metas coletivas e os países signatário apresentaram suas Contribuições Determinadas Nacionalmente (NDCs), que são compromissos específicos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Dentre as metas coletivas, destacam-se:
Embora a meta de contenção do aumento da temperatura média global seja de 2 graus Celsius, os países firmaram o compromisso de envidar esforços para limitar o aumento a 1,5 grau Celsius.
Em 12 de setembro de 2016, após a aprovação pelo Congresso Nacional, o Brasil concluiu seu processo de ratificação do Acordo de Paris.
Alguns dias depois, em 21 de setembro, o instrumento de ratificação foi oficialmente entregue às Nações Unidas.
Para alcançar essas metas, o Brasil planeja aumentar a participação da bioenergia sustentável na matriz energética para cerca de 18% até 2030, além de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas.
Outro objetivo é o de alcançar uma participação de 45% de energias renováveis na matriz energética até 2030.
A OCDE é uma organização internacional que desenvolve políticas e ações visando promover a prosperidade de seus países membros e de suas populações.
Na busca do seu propósito, a OCDE confere atenção especial ao tema Mercado e Condições de Trabalho. Afinal de contas, os indicadores quantitativos do mercado de trabalho são essenciais para avaliar o desenvolvimento e a estabilidade econômica de uma nação.
Complementarmente, os dados qualitativos permitem avaliar aspectos de extrema importância ao bem-estar das populações.
Para desenvolver e aprimorar os mercados de trabalho de seus países membros, a OCDE adota uma abordagem que poderia ser sumarizada nos seguintes pontos:
O Employment Outlook 2024 é um estudo sobre as principais mudanças e perspectivas do mercado de trabalho nos países membros da OCDE.
A edição de 2024 avalia as tendências no mercado de trabalho relativas as transformações esperadas na busca das nações pela neutralização da emissão de gases do efeito Estufa, a dita Transição Verde.
De acordo com Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a manutenção do nível global de emissão de gases até 2030 resultará no fracasso das metas do Acordo de Paris.
Dessa forma, as nações estão sob forte pressão para acelerar a implementação de medidas que reduzam suas emissões.
O atraso na implantação dessas medidas acabou comprometendo inclusive a realização de estudos mais concretos sobre as transformações sociais que elas promoverão. Até agora, com relação a empregos, o que se observou foram análises rasas, divididas entre a promessa entusiástica de novos “empregos verdes” abundantes e previsões sombrias de demissões devido ao uso intensivo de emissões atividades são extintas.
O Employment Outlook 2024 buscou uma visão mais abrangente, de longo prazo, e sólida dos impactos esperados no mercado de trabalho.
A Transição Verde já está provocando mudanças significativas nos mercados de trabalho, à medida que atividades de elevada emissão de carbono estão perdendo espaço para atividades com viés mais ecológico.
Para que essa transição ocorra de maneira justa e eficiente, é essencial que as políticas públicas priorizem a mobilidade profissional. Isso inclui a implementação de programas de formação eficazes nos setores afetados, o apoio aos trabalhadores que perderam seus empregos ou cujas ocupações estão em risco, e a promoção da inovação, do empreendedorismo e do emprego centrado no meio ambiente.
Embora os efeitos agregados da Transição Verde no mercado de trabalho sejam estimados como limitados no curto prazo, espera-se que no longo prazo ela cause mudanças e desarranjos significativos.
Empregos serão extintos em indústrias que utilizam intensivamente gases de efeito estufa, enquanto novos serão criados na expansão de atividades com baixas emissões.
Atualmente, cerca de 20% da força de trabalho está empregada em profissões “verdes”, e que provavelmente serão positivamente impactadas pela transição climática. Esses empregos incluem tanto aqueles que contribuem diretamente para a redução das emissões quanto aqueles que produzem bens e serviços intermediários para atividades ambientalmente sustentáveis.
Os “empregos verdes” de alta qualificação geralmente oferecem salários mais elevados do que a média, enquanto os de baixa qualificação tendem a ter uma qualidade de trabalho inferior comparada a outros empregos de baixa qualificação. Isso sugere que, para trabalhadores de baixa qualificação, esses setores podem ser uma opção relativamente menos atraente.
Os trabalhadores de indústrias de alta emissão, que representam 80% de todas as emissões de gases de efeito estufa, mas apenas 7% do emprego, enfrentam perdas de rendimentos significativamente maiores após demissões em massa.
Em média, essas perdas são 24% maiores nos seis anos seguintes à demissão, em comparação com outras indústrias.
As mulheres são menos propensas a trabalhar em profissões ecológicas e, simultaneamente, os homens são mais propensos a estar em setores de alta emissão (em declínio).
A sub-representação das mulheres em áreas educacionais de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), além dos estereótipos de gênero persistentes, levanta preocupações sobre a capacidade das mulheres de se beneficiarem de empregos ecológicos e altamente qualificados.
Para facilitar as transições profissionais e guiar os trabalhadores para novas oportunidades em empregos ecológicos, as políticas devem incluir:
Em resumo, a transição climática, apesar de seus desafios, oferece uma oportunidade única para remodelar os mercados de trabalho de maneira mais sustentável. Com políticas bem delineadas e ações coordenadas, é possível mitigar os impactos negativos e maximizar os benefícios, criando um futuro de trabalho mais verde e inclusivo.
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